Reinventando o jornalismo 24/05/2017

Quem foi que disse que o Jornalismo está morrendo? Da forma como o concebemos, atrelado a grandes grupos empresariais e fortemente dependente de vultosas fontes de financiamento público ou privado, pode ser que sim. Mas nunca antes na história desta profissão que abraçamos quase como missão houve tantas oportunidades de empregar o trabalho jornalístico para o desenvolvimento de tantas habilidades, em diferentes frentes.

Em setembro do ano passado, quando grandes jornais cariocas – e em quase todo o país – despejavam no mercado de trabalho centenas de profissionais altamente experientes e qualificados, todo mundo se perguntava: Para onde vai tanta gente incrivelmente capacitada? O clima era de comoção, revolta, pesar. Mais que indignado, sentindo-se desafiado, um grupo de jornalistas que se reunia em uma página em uma rede social resolveu se juntar para transpor a barreira do digital para o real e tentar se solidarizar com estes colegas, de modo positivo, ajudando na construção de novos caminhos.

E surgiu assim a série de encontros presenciais chamada Reinventar JornalistasRJ, que logo ganhou o apoio da Associação Brasileira de Imprensa, a secular e respeitada ABI. Com seu peso institucional, a entidade chancela uma iniciativa que surgiu de forma despretensiosa, acolhendo integralmente as iniciativas formatadas na informalidade de uma comunidade de Facebook. Há algo mais genuinamente atual e espontâneo do que isso? Juntar o ‘velho’ e o ‘novo’, renovar as parcerias e esperanças de um futuro mais alvissareiro para a profissão?

Pois a internet, antes vista como inimiga das redações, tornou-se a grande plataforma, não para roubar empregos clássicos das redações, mas para abrir novos horizontes para a criação de negócios movidos a informação, a opinião, a criação. Vivemos a era do jornalismo empreendedor, do jornalismo colaborativo, do jornalismo independente. Sim, é possível redesenhar o jornalismo com mais independência, transparência e criatividade, que gere oportunidades de trabalho, renda, prazer e realização para milhares de jornalistas.

Nesta nova fronteira do conhecimento e da lida jornalística, cada um deles tem a chance de trabalhar, projetar e fortalecer a sua marca pessoal, muito além das empresas as quais meramente representavam, como propriedades destas. Mas as oportunidades nesse novo mundo digital vão muito além de criar seu próprio site ou blogs de notícias ou trabalhar uma marca, pessoa ou evento nas redes sociais. O modelo do jornalismo colaborativo, financiado por plataformas de crowdfunding e tantas outras iniciativas, construídas a quatro, seis, oito, 20 ou mais mãos se tornaram uma grande tendência dessa nova fase do jornalismo, que está apenas engatinhando.

É na crise que os jornalistas inventam e se reinventam. E é da crise que nasce uma nova forma de fazer jornalismo. E se, de tudo, o jornalismo não for mais suficiente, ao menos nos agrega conhecimentos e redes de relacionamento suficientes para buscarmos novas alternativas em vários outros setores, bem como outros modelos.

Empreendedorismo jornalístico

Um destes modelos foi o inventado pela jornalista e atualmente também empresária, Graça Duarte. À frente da franquia Café & Pauta, ela e seu negócio tornaram-se um case de sucesso. Em apenas dois anos no mercado, o empreendimento reúne gente que atua em diferentes áreas culturais. Pessoas que conversam, trocam ideias, divulgam o que fazem, montam projetos, enquanto saboreiam um bom café. A iniciativa da jornalista-empreeendedora revela como é possível unir a paixão pelo jornalismo ao sabor de uma oportunidade de negócio que só faz crescer em grandes shoppings centers.

Organizado por uma equipe que reúne mais de 30 profissionais voluntários, o Reinventar JornalistasRJ-ABI propõe muito mais que um evento para trazer sugestões inspiradoras, a fim de motivar e encorajar outros colegas a empreender, a encontrar a sua luz no fim do túnel. O projeto possui a ousadia de pensar além e também fora da caixa. Não com o pressuposto de remoer mágoas de grandes projetos editoriais fracassados ou de patrões que descartam, a cada ano, um precioso capital intelectual, mas com a firme intenção de propor ideias, formatos variados de atuação. Numa palavra: reinvenção.

Além do bem sucedido painel “Jornalistas que nos Inspiram”, com cases de grandes profissionais que admiramos ou de colegas que encontraram o seu caminho do meio, o Reinventar vai trazer este ano encontros temáticos para discutir questões práticas, como campanhas políticas, negócios esportivos, roteiros para TV e Cinema. Teremos jornalistas-blogueiros, jornalistas-escritores, jornalistas-cientistas políticos, jornalistas-roteiristas… jornalistas que estão empreendendo suas próprias carreiras.

Para o primeiro encontro da série 2016, no dia 23 de março, das 9 às 12h, na sede da ABI, temos a honra de receber Sidney Rezende, Aydano André Motta e Henrique Koifman para falar sobre oportunidades, desafios e tendências no jornalismo. Ao longo do ano, pelo menos mais 40 jornalistas, de diferentes áreas de atuação, deverão trazer seus depoimentos e dicas, ensinar o “pulo do gato”, apontar o “caminho das pedras”, para mais de 800 jornalistas, numa experiência histórica de colaboração.

Aproveitando o grande poder de articulação que somos capazes de agregar, o projeto busca ainda reunir consultores, coaches, marqueteiros, especialistas em diversas áreas para dialogar com os jornalistas, ajudando a pavimentar, com segurança e orientação técnica, os novos caminhos a trilhar, seja pela via do empreendedorismo, pela vida acadêmica, pelo universo dos concursos públicos…

Mas para encarar as novas oportunidades que se abrem ou precisam ser abertas é preciso se requalificar, aprender mais, reaprender. Por isso, ações de capacitação, como oficinas, workshops, minicursos presenciais e online também estão no escopo do Reinventar.

Planejamos ainda formar uma rede de cooperação, outra palavrinha mágica deste novo universo, ao lado de colaboração e reinvenção. Portanto, queremos realizar também rodadas de negócios e novos encontros de networking, entre possíveis contratantes e contratados, novos parceiros e investidores, em projetos já existentes ou a serem gestados.

Para esta iniciativa, contamos também com espaços como o Rock Experience, da multifacetada jornalista-empreendedora Erica Ribeiro que já se consolida como ponto de encontro de colegas para relaxar, ouvir boa música e trocar experiências sobre os experimentos da comunicação, em especial, o jornalismo.

Como os eventos são totalmente gratuitos, organizados exclusivamente com trabalho de voluntários, precisamos, claro, de muito apoio para tudo isso. Mas já sonhamos até mesmo com uma incubadora de negócios voltados para o Jornalismo. Quem sabe? Não há, definitivamente, limite para nossos sonhos. Porque juntos podemos nos reinventar melhor.

Rosayne Macedo é jornalista, editora assistente do jornal O Dia (RJ) e criadora e moderadora do Grupo JornalistasRJ no Facebook.

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